Pioneiro da exportação
Pioneiro da exportação
Por Cláudio
Ênio Strassburger*
Eu havia ido aos Estados Unidos no
final de 1959, com uma comitiva liderada pelo então governador Leonel Brizola.
Bem, eu não estava entre os convidados dele, mas fui por minha conta. Lá, os
prováveis compradores nos alertaram que a época não era adequada, era fora de
estação. Mas na mesma oportunidade, o presidente da associação local nos disse
que, a cada ano, 50 ou 60 fábricas fechavam por lá. Isso me marcou muito.
Paralelamente, Fidel Castro havia vencido as eleições, levando os EUA a romper
relações com Cuba, que era seu principal exportador de calçados. Então,
concluí: era nossa oportunidade. A partir de 1960, comecei a enviar algumas
amostras para lá, e também para Europa e África do Sul.
Em 1965, consegui uma encomenda de cento e poucos pares para os americanos. Mas
não deu certo. No mesmo ano, um grupo de fabricantes se reuniu para debater as
dificuldades do mercado interno, que estava recessivo na compra. Descobrimos a
concorrência desleal entre o nordeste e o sul do Brasil, pois enquanto o
primeiro não pagava impostos pela produção calçadista, por aqui, nós pagávamos.
A ideia, então, era investir na exportação.
Em 1968, fui à feira de Paris com uma comitiva de industriais. Também visitamos
muitas fábricas na Espanha, que era a segunda maior exportadora de calçados
para os EUA, atrás apenas da Itália, na época. Lembro que em um banquete, eu
sentei ao lado de um espanhol. Ele me alertou que eu deveria focar na
Inglaterra porque ela estava ditando moda para o mundo, exatamente durante
o boom do fenômeno The Beatles.
De Paris, fui direto para Inglaterra. Lá, procurei o consulado brasileiro. O
segundo secretário da época, José Ferreira Lopes, me ajudou com uma relação de
visitas. Fui à parte mais norte do país, onde visitei a British Shoe
Corporation, que possuía 2,5 mil lojas. Quem me recebeu foi um senhor chamado
Mister Roberts. Eu expus a ele as sandálias Franciscano. Logo, ele atirou tudo
no chão. Chamou as meninas do calce e nenhum modelo calçou bem. Ele, então,
falou: “nada disso me interessa”. Foi para dentro e voltou com quatro pés de
sandálias e um de chinelo. Jogou-os no chão e resumiu: “se você fabricar isso
com preço compatível, eu te faço um pedido”.
Peguei meu avião e, chegando aqui, fui ao curtume Fasolo pedir um couro tal
qual aquele que vi, muito mais grosso do que o nosso tradicional. Em pouco mais
de oito dias, eu entreguei ao Roberts o que havia produzido. Nosso primeiro
pedido fechado foi de 15 mil pares, um marco para a época.
As sandálias agradaram e o novo pedido foi bem maior. Estados Unidos começaram
a enviar representantes, companhias fizeram contratos grandes. E eu concluí o
que já pensava na reunião de 1965: não adianta fabricar o que o consumidor não
quer. A partir de então, a exportação calçadista brasileira ganhou impulso em
um crescente de volume. E a nova era áurea do calçado no Vale do Sinos teve
início.
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Cláudio Ênio Strassburger*
É gaúcho de Porto Alegre,
nasceu em 24 de agosto de 1928, e dirigiu a Strassburger & Cia, fabricante
da marca de sandálias Franciscano. Já foi deputado federal, secretário do
Estado e vice-governador do Rio Grande do Sul. Assumiu diversos cargos
representativos. Seu pioneirismo na exportação calçadista orgulha e serve de
motivação para todos ligados à indústria. O artigo acima foi narrado por ele,
hoje com 91 anos de idade, em sua casa, com exclusividade para a reportagem da
Calçados S/A. Na foto, segura o sapatinho de sua infância.